
Vice-presidente de Indústria da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz do Sul e CEO da Excelsior Alimentos
A corrida pela Inteligência Artificial no corporativo é inegável. Há uma promessa gigantesca de ganhos. Mas vamos ser realistas: a obsessão pela IA tem um lado obscuro. Pode, e muitas vezes vai, minar a produtividade em vez de aumentá-la, especialmente se a perspectiva humana for ignorada. No Brasil, os números impressionam: 72% das empresas usando IA em 2024, um salto de 55% em relação a 2023. Ótimo para os fornecedores de software. Mas qual o custo real para quem adota? 4z5t66
Não se engane: o investimento é massivo. A ABDI, por exemplo, planeja injetar R$ 13,79 bilhões em inovação com IA. Mas a conta não fecha apenas com os custos diretos da implementação. As novas ferramentas trazem custos indiretos brutais: atrito interno, a necessidade de redefinir funções e fluxos de trabalho que se tornam complexos, e uma barreira natural à adoção. Uma pesquisa da Gartner, de julho de 2024, é clara: um em cada cinco funcionários reportou que a tecnologia implementada nos últimos dois anos tornou seu trabalho mais difícil. Mais difícil. Pense nisso.
No Brasil, os desafios são ainda mais agudos. A falta de infraestrutura tecnológica em certas regiões, o alto custo dos investimentos, a resistência à mudança e, criticamente, a escassez de profissionais qualificados. A Forbes confirma: 69% dos executivos veem a resistência cultural interna como um entrave, e 60% não encontram talentos especializados em tecnologia. Estamos despejando dinheiro em algo sem ter a base pronta.
Para virar o jogo – e fazer a IA realmente gerar valor – as organizações precisam de uma abordagem centrada nos funcionários. Isso significa parar de tratar a IA como um fim em si mesma e vê-la como um facilitador. A liderança, com o RH, deve ser o motor da governança da IA, incorporando o dos funcionários. Onde a IA realmente pode aprimorar processos? Onde ela realmente aumenta a produtividade e impulsiona a inovação? Onde ela, de fato, se paga?
É mandatório investir em reskilling e upskilling. A atualização das habilidades para as novas demandas da IA não é opcional, é essencial. No RH brasileiro, a IA já é realidade: 34% das empresas em adoção, 49% em planejamento. Ela está sendo usada em recrutamento (38%), treinamento (19,8%) e gestão de desempenho (15,7%). Cerca de 66% das empresas já investem em capacitação. Líderes precisam redesenhar as funções e, crucialmente, implementar métricas de desempenho que incentivem a colaboração com a IA, e não a mera automação. É preciso mitigar as curvas de aprendizado íngremes e as cargas de trabalho excessivas que sabotam a adoção.
Os dados da Gartner são inquestionáveis: funcionários que se sentem priorizados têm 1,5 vez mais probabilidade de alta performance e 2,3 vezes mais probabilidade de engajamento. No Brasil, o alinhamento da IA com uma gestão de pessoas estratégica não só otimiza processos, mas libera profissionais para atividades que exigem inteligência humana – como estratégias de retenção e programas de engajamento. A IA, quando bem executada, é uma ponte. Uma ponte entre tecnologia e humanidade. Mas se mal construída, é apenas mais um sumidouro de recursos.
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